Entenda sobre eficiência energética e o seu retorno
O Brasil está na rabeira nos rankings globais sobre eficiência energética. Em 2016, o Conselho Americano para uma Economia Energeticamente Eficiente (ACEEE para a sigla em inglês), analisou as políticas e o desempenho dos 23 países que mais consomem energia em quatro tópicos principais: esforços nacionais (governo); edificações; indústria e transporte – o país foi o 22º da lista.
Já no ranking publicado em junho de 2018 (The 2018 International Energy Efficiency Scorecard), o país aparece em 20º dentre um grupo de 25 países analisados – mais atrás somente a Tailândia (22), África do Sul (23) e grandes produtores de petróleo como a Rússia (21), os Emirados Árabes (24) e a Arábia Saudita (25).
No quesito “indústria” ocorreu uma leve melhora com relação a 2016, mas o país permanece bem abaixo da média global, como mostra o gráfico. Tal desempenho talvez possa ser explicado, pelo menos em parte, por um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco): de cada dez gestores industriais, apenas um está realmente aberto à implantação de projetos de eficiência energética.
O ACEEE sugere foco na implementação de uma política de gestão de energia com auditorias e a contratação de gerentes para o setor para grandes instalações industriais. No ranking, o Brasil caiu quanto aos esforços nacionais: os gastos governamentais em eficiência energética em comparação com outros países analisados.
No ranking 2018, a Alemanha ficou em primeiro lugar. O texto de apresentação do resultado afirma que o país implementa uma estratégia energética abrangente, conhecida como Energiewende. Estabeleceu-se uma meta de 20% para redução do consumo de energia primária até 2020 e 50% até 2050 com relação a 2008.
O governo alemão aumentou suas despesas em eficiência energética e P&D (pesquisa e desenvolvimento) relacionado à eficiência. Além disso, a Alemanha desenvolveu programas de empréstimos multissetoriais e créditos destinados a aumentar a implantação de tecnologias energeticamente eficientes.
A eficiência energética traz ganhos sob vários aspectos, dentre eles permitir que o país desenvolva-se reduzindo a necessidade de altos investimentos, por exemplo, nas destrutivas represas da Amazônia e em outras regiões ou ainda na construção e operação de térmicas poluidoras. Os investimentos em eficiência são geradores de empregos e desenvolvimento tecnológico.
Para as empresas, a eficiência energética apresenta muitas vantagens, desde o aumento da produtividade e, consequentemente, dos resultados econômicos, até a diminuição da exposição às variações nos preços da energia.
É fundamental para a competitividade.
Em 2015, a Abesco publicou levantamento sobre o potencial de economia de energia no Brasil: a poupança, àquela altura, poderia ser de 52 mil GW/hora, o que equivaleria em termos de demanda a 17 mil MW, ou seja, mais do que toda a carga nova proveniente de usinas hidrelétricas no ano de 2014, que somou o total de 14 mil MW. Isso significaria uma economia de R$ 13,6 bilhões aos consumidores finais (indústria, comércio, serviço e residencial). Novo levantamento para o período de 2015 a 2017 mostrou que o potencial de economia de energia seria da ordem de 142.820,69 GWh, com potencial de economia de R$ 52,17 bilhões.
Em 2016, o custo de investir em eficiência energética era de R$ 50 o megawatt-hora, o que equivale a 1/3 do investimento necessário para gerar a mesma quantidade de energia através da construção de hidrelétricas e um sexto do necessário para usinas termoelétricas.
Na média, o investimento em eficiência seria de um ¼ do necessário para energia nova.
Investimentos
Em 2016, a Ecoa publicou o estudo “BNDES e eficiência energética: a trágica cena brasileira na área de energia”, que, como o título aponta, trata dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para o setor.
O trabalho identificou que 66% dos recursos da Linha Eficiência, entre 2006 e 11/05/2016, foram destinados às gigantes Tractebel e Light e que apenas 12 empresas buscaram financiamentos nos 10 anos. Os desembolsos foram aproximadamente 0,04% do total contratado no período: mais de 1,5 trilhão.
Segundo relatório do Banco Mundial, citado por matéria no site do El País Brasil, nos últimos 20 anos os investimentos no país ficaram bem abaixo do necessário (pelo menos 3% do PIB) para substituir ou reparar a infraestrutura já existente. No setor de energia os investimentos caíram de 2,13% do Produto Interno Bruto na década de 1970 para 0,7% em 2016.
Por Alcides Faria (Ecoa – Ecologia e Ação)
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